Frustrações de brinde




Esses dias andei escrevendo algumas coisas desconexas, sem inicio e sem fim, sem termos, e sem todas aquelas firulas que coloco em meus textos. Esses dias eu estava mais distante e mais próxima do suspiro fundo da minha intensidade aflorada, mas  requerendo manter a resiliência em cima do ombro sussurrando suas palavras de ordem.
Esses dias caminhei na Paulista e senti o vento gelado pedindo abrigo no meu coração e esqueci por um segundo de ter  obrigação  de observar as pessoas ao meu redor, e o que elas estariam ouvindo em seus fones de ouvido. 
Esses dias eu fiquei na  minha, pensando em não escrever absolutamente nada, nada, mas não contive, meti o pé na porta e fui atras do primeiro lápis e papel que encontrei e na raiva, aquela que trato na terapia, expus o que os fluidos do meu corpo pedia.
Coloquei os pés pra cima quando cheguei em casa, estava exausta e procurei na minha agenda seu telefone pra ligar, sua voz me traz paz dos dias mais sombrios.
Esses dias tentei não gritar a raiva, a raiva, meu combustível de direcionamento em caminhos que não sei quais são, mas que algum dia os coloquei em ordem num calendário qualquer.  
Esses dias eu tentei só sobreviver, mas parecia tão chato, tão blé, tão sem risos, sem tesão da tarde de sábado quando eu chegava na sua casa. Esses dias eu tive preguiça de todos, das mesmas músicas na minha playlist. 
Esses dias me dei conta que a fase adulta seria minha nova companhia e que seria minha decisão dizer "olá, tudo bem?" ou "tchau, seu lugar não é aqui!", mas quem derá eu tivesse que decidir algo, porque na realidade não havia escolha, e muito menos uma decisão a ser tomada. A fase estaria ali de prontidão me dizendo que teria pouquíssimos minutos para abrir a porta, que eu estava sendo infantil e que com ela viria com umas dívidas, umas responsabilidades nada vê e umas frustrações de brinde. Ela entraria a qualquer momento e diria: "Ok, por onde vamos começar?" 
Esses dias abri a porta para ela, e disse: "Tchau amor, te ligo depois. Vamos começar por aqui, só deixa eu colocar meus pés para o alto."

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