Emergência

As lembranças daquele lugar não são as melhores. Internação, visitas, emergência, u.t.i. 
Evito estar lá, andar por aqueles corredores gelados com cheiro de álcool. Evito olhar as pessoas vestidas de jaleco branco. Evito ouvir os  gritos de dores tão diferentes, tão desiguais, de tantas causas. Evito.
Tento deixar essas doloridas lembranças de lado. Não quero mais ser conhecida daqueles corredores, daquelas alas de emergência e  daqueles atendes. Não quero  voltar lá tão cedo e  ver na minha mente um filme de retrocesso de quando eu era criança e vinha para o  pronto  socorro infantil. Não quero mais ser espetada por agulhas e fazer bateria de exames. Não quero mais  ter que ir lá carregando no braço a pulseirinha de vistante-u.t.i. Não quero  ouvir mais palavras de consolo de quem sabe como vai termina  aquela historia. Não quero pertence a um lugar que não é minha casa.Não quero mais. 
Mas apesar disso, agradeço aos anjos de jaleco branco que não me deixou desamparada em nenhum momento, que procurou me ajudar nas tantas vezes que  lá estive, que procurou amenizar minha dor, que procurou salvar a vida daquele que já mora no céu. Obrigada. Durante esses tantos momentos, vocês me deram a esperança  de que nada era greve, apenas passageiro.
Reconheço que são tantos casos, tantas vidas, tantas caminhadas nas mãos de uma. Reconheço as falhas que o sistema  têm. Reconheço a negligencia de muitos. Reconheço a boa  vontade de poucos. Reconheço a falta de instrutura e a falta de investimento.Só que particularmente, quero passar um longo tempo sem subir aquele  ladeirão da USP. 

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